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4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um dos destaques sobre uma relação de interlocução com os mediadores do método é uma avaliação rigorosa e honesta do próprio aprendiz, uma autoavaliação; como uma metodologia de afirmação do que se está fazendo, pensando em potências do que está acontecendo a partir das propostas de exercícios. No entanto, para haver aprendizagem é preciso se desdobrar no exercício; elaborar e aprofundar a situação que foi proposta. Utilizar a escuta corporal antes de usar a palavra-resposta foi um treinamento interessante para que o uso da tecnologia e da prática gestual fossem mais potentes. A escuta interna passa a ser um instrumento mais flagrante; se não houver o passo do aprendiz em ir até o objeto de pesquisa, não há como se enganar em meio aos exercícios diluindo-se nas práticas coletivas. No ambiente virtual, há a possibilidade para aprimorar essa relação em vários sentidos. As ferramentas de interação (fórum ou mesmo as gravações enviadas por e-mail...) podem provocar a diferença mesmo que o aprendiz estiver apenas revendo os conceitos que os alunos postaram que é recebido mensalmente via e-mail. Nessa plataforma, a interação fica reservada para os encontros presenciais que podem ser no encontro anual (IFTR ou encontro sobre o Método Margolis), por e-mail ou no envio de gravação para uma avaliação dos orientadores, ou, ainda uma videoconferência a ser agendada. As gravações passam por arguições, embora não sejam obrigatórias. Elas demonstram e compartilham uma atuação entre profissionais e pode mutuamente ir se aprimorando, tanto em método de transmissão (pelo lado dos instrutores), quanto em qualidade de trabalho daqueles que recebem o treinamento.

No caso dessa pesquisa, foram estabelecidos encontros com uma participante do mesmo método que foi um dos diferenciais que puderam ser percebidos foi o de poder visitar várias vezes suas anotações e vídeo-aulas para refletir novamente sobre sua escrita e sobre as perspectivas dos colegas. A maleabilidade do processo quanto a avaliação e autoavaliação foi com certeza um dos destaques da rigidez quanto a disciplina. Diferente da experiência presencial que se utiliza de métodos pessoais relacionais para uma memória gestual individual que é construída coletivamente, o trabalho com plataformas digitais é um processo em construção contínua. Pude perceber que temos que nos orientar bem - frente ao que o curso pretende - desde a sua formação até a avaliação. O limiar do comprometimento e responsabilidade são a toda hora negociados e o desenvolvimento de tal habilidade, no quadro atual das formações em artes cênicas, atende pouco ao que se entende hoje por formação inicial. Por outro lado, no que tange ao desenvolvimento de artistas, que é o objetivo da plataforma, avalio que diante das circunstâncias propostas o método atinge seus objetivos de: aprimoramento da experiência da escuta, da presença por meio de um treinamento extremamente físico; e que pode ser combinado com outros treinamentos presenciais. Esse fator se deve a natureza de autonomia em que o Método foi elaborado e proposto. Há muito o que se desenvolver na área. Esse ensaio apontou questões, a partir de um treinamento estranho aos artistas em artes cênicas.

As novas tecnologias apresentam um novo paradigma de ensino-aprendizagem que não pode ser comparado ou adaptado ao modelo tradicional em que estamos imersos. Essa proposta de adaptação é insuficiente já que apresenta um ambiente novo de relação. O meio e a linguagem acabam por definir o modo e a forma artística. Desejar que a metodologia EaD seja suficiente e caiba no modelo tradicional de prática de teatro é um constranger uma linguagem a outra; uma natureza a outra. Uma das possibilidades de desenvolvimento dessa pesquisa após as avaliações da teoria e prática é a de que o diálogo entre os diferentes universos tenha que ser gradual e igualitário. Já que essa tecnologia nos dá um panorama de abertura, em termos de autonomia, frente aos caminhos pré-estabelecidos por currículos de ensino manipulados para se preservarem sob o mesmo paradigma de poder político e econômico. Surgem, também, confinamentos sociais quando se tem em conta o ferramental individualizado e o acesso a esse conhecimento - num sentido de que o problema da acessibilidade da proposta é apenas um dos fatores da cadeia da produção artística. Além de todas essas considerações, existe a variante das múltiplas realidades, espacialidades e temporalidades que cada treinamento apresenta em sua especificidade para cada situação, conjuntura e condições concretas.

A vontade de que haja uma única verdade que seja capaz de atender a todos os problemas e contextos é utópica e reducionista. As transformações impostas pela modernidade do capital são a de que haja possibilidade de uma segurança imatura de modos de fazer arte e outras atividades como se houvessem formas dadas e fórmulas prontas. Nesse sentido, a atuação em prol da apreensão das novas tecnologias, e como isso transforma nosso fazer artístico, torna-nos agentes potentes e conscientes da prática. Refletir sobre aspectos que nos tornam cada vez mais problematizadores e questionadores das relações mediadoras do nosso fazer, gera caminhos alternativos e desponta novos fazeres frente ao cenário conservador atual.