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2 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E APRESENTAÇÃO DOS MODELOS DE TELECOLABORAÇÃO

No contexto de ensino e aprendizagem de língua estrangeira, existe uma crescente necessidade de os aprendizes compreenderem comportamentos, perspectivas e valores de outras culturas (BYRAM, 1997; KRAMSCH, 1993, 2005). Tal compreensão pode ser facilitada através de uma abordagem intercultural (BYRAM, 1997; CORBETT, 2003; CROZET; LIDDICOAT, 1999; FANTINI, 2006; GIMENEZ, 2006; KRAMSCH, 1993, 1998, 2005).

Para Fantini (2006), competência intercultural está relacionada a “um complexo de habilidades necessárias para desempenhar efetiva e apropriadamente a interação com outros indivíduos os quais são linguística e culturalmente distintos” (p.12, tradução nossa). Nesta perspectiva, uma abordagem intercultural pode contribuir para a transcendência das limitações da visão de mundo do indivíduo.

Bredella (2002) define entendimento intercultural como a habilidade de “reconstruir o contexto do estrangeiro, levar em conta a perspectiva dos outros e ver as coisas através de seus olhos. Isso implica que somos capazes de nos distanciar de nossas próprias categorias, valores e interesses” (p. 39, tradução nossa). Por este ângulo, Kramsch (2005) sublinha que a abordagem intercultural deve proporcionar “consciência e respeito em relação à diferença, bem como a capacidade socioafetiva de se ver através dos olhos dos outros” (p. 553, tradução nossa).

Considerando que existe a possibilidade de lidar com assuntos interculturais em projetos de telecolaboração (BELZ, 2002), a seguir apresentaremos três modelos de telecolaboração. Evidentemente, é necessário deixar claro que tais modelos têm incluído a abordagem intercultural a fim de fomentar o entendimento intercultural (BREDELLA, 2002) ou competência (comunicativa) intercultural (BYRAM, 1997; FANTINI, 2006; KRAMSCH, 1993, 2005).

O projeto The Cultnet Intercultural Citizenship, tendo recebido os passos iniciais em Dorham, Inglaterra, é resultante da colaboração entre membros de uma rede informal de pesquisadores interessados no ensino de línguas estrangeiras e sua dimensão intercultural. Segundo Byram (2016), o objetivo do projeto é compreender como a educação para a cidadania pode ser incluída no ensino e aprendizagem de línguas através de subprojetos. Esses subprojetos envolvem alunos e professores de escolas secundárias e universidades em treze países e emergiram a partir de informações disponibilizadas numa página online. Tendo como base a teoria de cidadania e criticidade, o autor salienta que os subprojetos deveriam preparar os aprendizes de línguas estrangeiras para conhecer e aprender aspectos relacionados a diferentes culturas, o que pode propiciar o entendimento intercultural.

Outro projeto de telecolaboração é o The Cultura Exchange Programme, concebido por Furstenberg na MIT (Massachusetts Institute of Technology), Estados Unidos, um ambiente híbrido de aprendizagem. Furstenberg (2016) explica que o objetivo deste projeto é facilitar o entendimento intercultural entre seus alunos e de outros países. Assim dito, The Cultura Exchange Progra visa ensinar língua e cultura como algo indissociável e, conforme a autora, sua intenção é de permitir que os aprendizes estejam constantemente em contato com diferentes realidades culturais. A base do projeto se estabeleceu em consequência de trocas interculturais realizadas por meio da comparação de filmes. Algum tempo depois, os organizadores do projeto introduziram questionários assim como outros instrumentos para propiciar a comparação de assuntos interculturais, a saber: notícias de jornais, documentos oficiais, pesquisas de opinião, entre outros.

O terceiro projeto de telecolaboração é o Teletandem Brasil: Línguas estrangeiras para todos (de agora em diante TTB). O TTB é definido por Telles (2015) como “um contexto virtual, autônomo e colaborativo no qual dois falantes de línguas diferentes utilizam recursos de tecnologia VOIP (texto, voz e imagem de webcam) para ajudar o parceiro a aprender a sua língua materna (ou língua de proficiência)” (p. 604). Criado em 2006 e desenvolvido por uma universidade do estado de São Paulo, o objetivo deste projeto é propiciar o contato entre alunos brasileiros e de outros países. Existem três princípios norteadores do teletandem: reciprocidade, autonomia e uso separado das línguas (TELLES, 2009). As sessões online acontecem via Skype. Em 2011, o TTB incorporou o componente cultural.

Para Telles (2011), são necessárias mais pesquisas no contexto do teletandem com o intuito de compreender questões relacionadas à cultura / interculturalidade. Oportunamente, um dos autores do presente trabalho está desenvolvendo uma investigação de doutorado com o objetivo de compreender como ocorre a construção do entendimento intercultural no teletandem e de identificar quais características podem promover e quais podem obstaculizar esse entendimento.

Após descrição relativa a três modelos de telecolaboração no contexto de ensino e aprendizagem de língua estrangeira os quais lidam com a promoção do entendimento intercultural, passamos a tecer algumas considerações e explicar como pretendemos dar seguimento a este estudo.