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2 | CONTEXTUALIZAÇÃO

As dificuldades vivenciadas pelos alunos em seu processo de inserção na escrita acadêmica, dificuldades que parecem ser comuns às instituições de ensino superior, direcionam os currículos na roteirização dos saberes. Da mesma maneira, é comum o relato de estudantes que encontram dificuldades em disciplinas com conteúdo específico, que requerem compreensão teórica. Por isso, a escolha para o projetopiloto do Blogário foi a disciplina Leitura e Produção Textual.

Sem desconsiderar as dificuldades próprias do nosso alunado – muitas vezes geradas sim por um sistema de ensino com problemas estruturais e conjunturais – e a necessidade de trabalho com aspectos textuais, gramaticais e teóricos bastante específicos; para quem acredita num processo de aquisição e desenvolvimento da escrita e do conhecimento centrado nas práticas sociais concretas dos indivíduos, considerando as diversas ideologias, as relações de poder, a inserção do indivíduo na história, as culturas locais, as identidades e as relações entre os diversos grupos (STREET, 2014), fica evidente que os problemas relativos ao desenvolvimento da escrita na esfera acadêmica e à apropriação dos saberes teóricos próprios dessa esfera estão intimamente relacionados com as possibilidades (ou com a falta delas) de se estabelecer relações entre os conhecimentos já adquiridos pelos estudantes e os novos conhecimentos que eles devem desenvolver, além da falta de compreensão e, consequentemente, de significação, para o estudante, dos produtos gerados pelas atividades sociais típicas deste espaço – a produção científica.

Considerando o processo típico de todo aprendizado – que envolve sempre um certo “desconcerto” frente ao que ainda é desconhecido e alguma dificuldade inerente ao desenvolvimento de novos saberes, fazeres e agires –, é preciso, por outro lado, considerar a crescente distância entre as práticas culturais dos estudantes que estão entrando na universidade atualmente e as práticas próprias deste espaço. Afinal, grande parte das pessoas que entram hoje para cursar um curso de graduação vive uma cultura influenciada pelo grande (e vertiginoso até) desenvolvimento das TICs, das TDICs, da internet. Estamos em plena cibercultura, a qual convive com outras culturas, num processo permanente de múltiplas configurações sociais. Como nos lembra Rojo (2012), pensar a sociedade atual é pensar não somente na variedade de práticas letradas (reconhecidas ou não), mas considerar o profundo hibridismo dos processos e produtos. No livro Multiletramentos na escola, por exemplo, Rojo e Moura (2012), com base nesta ideia, procuram traçar caminhos para o desenvolvimento de um trabalho que normalmente envolve uso de “novas tecnologias”, entretanto, a proposta é partir das culturas de referência do alunado para ampliar o seu repertório cultural “em direção a outros letramentos”.

Considerando as dificuldades descritas acima e a necessidade de considerar o papel do professor enquanto sujeito que participa e que forma outros para participar das práticas sociais e comunicativas em circulação no ambiente virtual, o que engloba a atualização dos currículos das licenciaturas e a significação do ciberespaço em práticas de ensino-aprendizagem, fizemos a proposta do Blogário para turmas de Letras e Pedagogia da UEMG. (RIBEIRO; BOVO, 2018)