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1 | RETENÇÃO E A EVASÃO E RETENÇÃO EM MATEMÁTICA POR ALUNOS DA UFVJM.

Nas ações desenvolvidas pela equipe do Laboratório Interdisciplinar de Formação de Educadores (LIFE) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) foi estabelecido o propósito de contribuir na investigação de fatores que alimentam a evasão e retenção de graduandos matriculados em disciplinas com conteúdo de matemática nos cursos superiores da UFVJM.

A UFVJM encontra-se inserida no Vale do Jequitinhonha, região que apresenta indicadores sociais relativamente baixos no Estado de Minas Gerais e, por conseguinte grande vulnerabilidade social e econômica. Sua criação está ligada à necessidade de impulsionar o desenvolvimento das regiões dos vales do Jequitinhonha e, também do Mucuri, marcadas pelas formas históricas de exploração das riquezas naturais e das forças de trabalho. A particularidade de sua localização geográfica exige dela uma atenção toda especial aos problemas de sua região, para se tornar uma agência atuante na busca das soluções necessárias ao seu desenvolvimento, ao crescimento humano e cultural de seus membros. Para que se potencialize a construção de ideais o ensino superior gratuito não pode ser um privilégio das classes A e B e deve buscar alternativas para criar formas democráticas de ensino-aprendizagem e de permanência do jovem oriundo de populações vulneráveis na universidade.

A UFVJM, desde 2010, decidiu pelo acesso disponibilizado pelo Sistema de Seleção Unificada (SISU) e, para manter-se vinculada ao mesmo, necessita ser acompanhada de ações afirmativas que criem condições reais de democratização da universidade, para tal se faz necessário a implementação de estratégias acadêmicas que visem: construir espaços de integração e troca de conhecimento que medeiam o protagonismo e a ampliação das oportunidades a esses jovens

A dificuldade de acesso ao ensino superior público, por um lado, e de permanência dos estudantes nele, por outro, são muitas vezes ocasionadas por fatores socioeconômicos, pois, estes estudantes têm, ainda muito cedo, de buscar trabalho para colaborar com o sustento da família, podendo também ocorrer por falta de informação quanto aos meios e incentivos para se chegar à universidade bem como às condições oferecidas pelo governo - bolsas - objetivando possibilitar a sua permanência. É premente a necessidade da universidade se organizar para divulgar tais possibilidades. Por outro lado, também é premente a necessidade da universidade se instrumentalizar para fazer as intervenções necessárias no tempo e espaço universitário cuidando de atender, com qualidade, esse jovem que chega à sua esfera sem ter elencado um conjunto de conhecimentos prévios - outrora excludentes - objetivando possibilitar a sua inclusão nos espaços que lhes são consagrados.

Ciente dessa realidade, o propósito do presente projeto de pesquisa foi de investigar os conteúdos matemáticos que mais estão presentes nos fatores de evasão e retenção de disciplinas com conteúdo de matemática em cursos da UFVJM. Na estratégia para essa identificação oferecer cursos em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) e de diversas tecnologias de informação e comunicação – TIC´s.

Diante dos altos índices de retenção e evasão nas unidades curriculares com conteúdo da área do ensino da Matemática (AMORIM, 2016), entre os problemas que se encontram descritos, temos a falta do conhecimento de alguns conteúdos da base matemática, isto é, conteúdos dos ensinos fundamental e médio pelos alunos que evadem ou são reprovados nas disciplinas das Matemáticas.

  • Considerações sobre o Reuni e a Retenção e Evasão na UFVJM

Esta pesquisa se insere no conjunto de iniciativas e esforços para atender metas colocadas para o Ensino Superior Público, tendo amparo do Decreto nº 6.096 de 24 de abril de 2007 da Presidência da República que institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, que visa, entre outras metas, prover a oferta de educação superior para pelo menos 30% dos jovens na faixa etária de 18 a 24 anos até o final da década, de acordo com o Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001).

De acordo com o item “Objetivo do REUNI” disponível no portal da UFVJM, este programa visa:

criar condições para ampliação do acesso e permanência na educação superior, no nível de graduação, para o aumento da qualidade dos cursos e pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas Universidades Federais, respeitadas as características particulares de cada instituição e estimulada a diversidade do sistema de ensino superior. (UFVJM, 2018a)

Ainda no mesmo documento digital estão colocadas publicamente metas globais do REUNI de acordo com as Diretrizes Gerais do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE):

  • Elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos presenciais para 90% (atualmente no Brasil é de 60%);
  • Aumento da relação professor/aluno nos cursos de graduação de um professor por 18 alunos (1/18) ao final de cinco anos, a contar do início de cada plano.

Constam igualmente algumas diretrizes das quais selecionamos as seguintes abaixo (sem prejuízo às demais):

  • Redução das taxas de evasão, ocupação das vagas ociosas e aumento de vagas de ingresso, especialmente no período noturno;
  • Ampliação de políticas de inclusão e assistência estudantil.

No item A.2 do documento “proposta_reuni_ufvjm_27_05_2009.pdf” consta um diagnóstico da instituição sobre suas taxas de evasão e a preocupação em como reduzi-las:

Diagnóstico da situação atual:

Portanto como instituição pública de Educação Superior, a UFVJM valoriza, principalmente em relação ao lugar geográfico de sua inserção, a ampliação da oferta de cursos e vagas, abraçando políticas de efetivo acesso e permanência da população jovem e adulta dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, aos seus cursos e programas. Há uma evolução crescente de vagas ociosas, em 2007, em torno de 12,6%. Sabe-se, generalizadamente, das dificuldades de alunos em relação à disciplina intelectual que o estudo de nível universitário exige; da defasagem de conteúdos básicos, embora se espere que os tenham adquirido na Educação Básica. Existe carência de habilidades intelectivas elementares, de atitudes éticas e de discernimento crítico que lhes permitam transitar com propriedade no ambiente universitário e na própria localidade onde se insere a Instituição e que representam fortes geradores da inacessibilidade e não permanência nos cursos. (...). (UFVJM, 2010)

O problema das taxas de evasão e retenção e de como reduzi-las é mencionado também em outro documento público da UFVJM, o Relatório de Gestão 2007-2011, que em sua página 15 tece as seguintes considerações:

Ao assumir a administração da UFVJM, esta gestão identificou uma elevada evasão e retenção dos alunos matriculados. Para minimizar essa realidade, foram implantados programas de nivelamento para fortalecimento da formação básica em disciplinas das ciências exatas para os discentes ingressantes e para aqueles que apresentam dificuldades ao longo do curso, além da otimização do Programa de Monitoria em relação à quantidade de bolsas (com um aumento significativo de 57% de 2010 para 2011) e à qualidade do desempenho nas atividades junto aos discentes com dificuldades de acompanhar os conteúdos programáticos das disciplinas. (UFVJM, 2010)

O problema da evasão e da retenção se mostra ainda mais grave quando se sabe, como apontam “O Relatório de Gestão do Exercício de 2010” e o “Relatório de Auditoria Anual de Contas 2010”, que ocorre também:

o não preenchimento do número total de vagas disponibilizadas pelos processos seletivos, principalmente para o curso de BHu, em função do cancelamento de matrícula de acadêmicos ingressantes pelo SISU/ENEM que foram aprovados em outra instituição de Ensino Superior no decorrer do processo. (UFVJM, 2010).

Com efeito, a análise de documentos da UFVJM mostra de modo inequívoco o quão oportuno se mostra o estudo das causas da evasão e da retenção estudantil na UFVJM. Este tema já tem sido alvo de investigação, por exemplo, num estudo realizado sobre a Evasão nos Cursos de Graduação da UFVM em 2009.

Andrade (2009) constatou que a taxa média de evasão no período de 2008 a 2009 foi de 6,0%. Ainda de acordo com os dados levantados nesse estudo, a autora verificou que o número de alunos desistentes / evadidos na UFVJM, no Campus de Diamantina aumentou ao longo dos semestres analisados, principalmente no primeiro semestre de 2009 (Gráfico 1). Este fato teria ocorrido devido à aprovação e implantação do Regulamento dos Cursos de Graduação da UFVJM, no segundo semestre de 2008, que estabelecera a obrigatoriedade de renovação semestral do trancamento de matrícula pelos estudantes, a ser realizada no período de matrícula regular da Instituição.

Com a aplicação dessa norma aqueles estudantes que não renovaram suas matrículas ou não optaram pelo trancamento foram automaticamente desligados da Instituição, ocasionando um aumento significativo do número de desistências/evasão no período estudado. O fato desse procedimento não ser adotado anteriormente à implantação do Regulamento dos Cursos, concorria para que muitos estudantes que não tinham interesse em retornar para a UFVJM deixassem sua vaga “presa”, prejudicando o processo de ocupação de vagas ociosas, pela impossibilidade da Instituição disponibilizar essas vagas para os processos de transferência, reopção de cursos e obtenção de novo título.

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Gráfico 1 - Evasão nos Cursos de Graduação da UFVJM, no período de 2008 a 2011.

Fonte: DRCA/PROGRAD (2013)

Em relação à evasão por área de conhecimento na UFVJM, o estudo apontou, também, que os cursos de graduação da área da saúde apresentaram baixa evasão (4,5%). Nas agrárias, o curso de Engenharia Florestal foi o que apresentou a menor taxa de evasão, 4,6%. Já o curso de Zootecnia foi o que apresentou a maior evasão no período estudado, 9,0%, cerca do dobro da evasão apresentada pela Engenharia Florestal. A evasão média, para os cursos do Campus do Mucuri foi baixa, 5,0%. Dentre os motivos levantados naquele período, verificou-se que questões relacionadas à Instituição, como carência de infraestrutura física e falta de professores nas disciplinas, foram naquele momento as principais causas alegadas pelos evadidos mediante questionário de evasão aplicado nos cursos de graduação da UFVJM. Esse quadro revela um momento da expansão de cursos de graduação e início da construção da infraestrutura física do Campus Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK), bem como do Campus do Mucuri.

A partir dos dados consolidados e apresentados no gráfico 2 abaixo, observase que houve aumento do índice de evasão entre os anos 2010 e 2011. O cálculo do percentual da evasão referente ao período n foi realizado utilizando a fórmula:

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em que E é a taxa de evasão, M é o número de matriculados, C é o número de concluintes, I é o número de ingressantes, n é o período em estudo e (n-1) é o período anterior. Os resultados seguem abaixo.

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Gráfico 2 - Evasão na UFVJM por Campi 2008-2011

Fonte: DRCA/PROGRAD (2013)

A análise realizada pela UFVJM sobre a evasão ocorrida no período de 2008 a 2011 e sobre seus possíveis fatores incidentes mostrou que esse aumento do índice pode estar relacionado diretamente ao processo adotado para efetivação de matrículas na Instituição. Em 2010, a UFVJM aderiu ao Sistema de Seleção Unificada (SiSU/MEC), disponibilizando o quantitativo máximo de vagas ofertadas anualmente nos seus cursos de graduação para ocupação por meio do SiSU.

Ocorreu que grande número de alunos realizou suas matrículas na UFVJM, entretanto, não ocupou efetivamente as vagas e não apresentou declaração de desistência, porque este não era o procedimento adotado naquela ocasião. Esse fato contribuiu para a elevação do número de evadidos, uma vez que após a matrícula realizada a partir do SiSU, não foi confirmada de imediato a presença dos alunos nos cursos, ocorrendo a apuração somente no final do semestre/período. Portanto, foram implementadas ações para a correção dos resultados que não representaram o índice real de evasão no período.