Capítulo 8

UTILIZANDO MEMES COMO RECURSO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE HISTÓRIA Denise Peruzzo Rocha Cavalcanti Rita Melissa Lepre DOI 10.22533/at.ed.7531918048

RESUMO | ABSTRACT

RESUMO: O presente artigo discorre sobre o uso de memes como ferramenta pedagógica utilizada nas aulas de História numa escola da rede estadual de São Paulo. Revela, também, a preocupação com as novas formas de manifestação cultural presentes nos memes compartilhados nas redes sociais, especificamente àqueles que nos traduzem percepções relacionadas a conteúdo da disciplina de História que contribua para despertar o interesse dos estudantes, adentrar no seu imaginário e torná-lo protagonista na relação de ensino-aprendizagem. Em nosso trabalho, o meme é fio condutor das possíveis discussões e novas formas de aprender através das redes sociais. A fim de colocar em prática os conhecimentos adquiridos, os alunos são estimulados a criar e/ou analisar memes com as temáticas já estudadas. Criamos uma página no Facebook para que os alunos compartilhem e divulguem suas produções com o objetivo de estimular a criatividade, a troca colaborativa entre pares e o pensamento histórico crítico-reflexivo.

ABSTRACT: This article discusses the use of memes as a pedagogical tool used in History classes at a school in the state of São Paulo. It also reveals the preoccupation with the new forms of cultural manifestation present in the memes shared in social networks, specifically those that translate perceptions related to the contents of the History discipline that contribute to arouse the interest of the students, the relationship between teaching and learning. In our work, the meme is the guiding thread of possible discussions and new ways of learning through social networks. In order to put into practice the knowledge acquired, students are encouraged to create and/or analyze memes with the themes already studied. We have created a Facebook page for students to share and disseminate their productions with the goal of stimulating creativity, peer-to-peer exchange, and critical-reflective historical thinking.

1 | INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

O termo meme foi apresentado pela primeira vez em 1976, no livro O Gene Egoísta de Richard Dawkins para se referir a uma nova unidade de replicação que, de forma semelhante ao papel exercido pelos genes na evolução biológica, seria responsável pela transmissão de conteúdos de uma determinada cultura. Então, de acordo com essa definição, qualquer conhecimento cultural que possa ser transmitido de um indivíduo a outro, é um meme. No entanto, o mundo virtual se apropriou do termo para se referir a algo que se popularize através da internet.

O meme, já considerado um gênero textual da era digital, popularizou-se nos últimos anos em todo o mundo, se manifestando de maneiras diversas no ciberespaço. De acordo com Blackmore (2000, p. 06), que fala sobre o aspecto reprodutivo que também o caracteriza, assim define o meme:

Quando você imita alguém, algo é passado adiante. Esse ‘algo’ pode então ser passado adiante de novo, e de novo, e assim ganha vida própria. Nós podemos chamar essa coisa uma ideia, uma instrução, um comportamento, um pedaço de informação, mas se nós vamos estuda-lo nós precisamos dar-lhe um nome.

Quando analisamos os memes publicados pelos internautas nas redes sociais, em especial no Facebook, notamos que criar táticas que intencionalmente permitam com que os alunos se enxerguem como agentes que interagem o tempo todo com o discurso midiático, é potencialmente uma estratégia de tornar nossos estudantes mais compromissados e ligados à escola à qual pertencem. É também uma via para que o docente penetre em seu imaginário e, assim, busque um diálogo com o alunado, estreitando vínculos sólidos de parceria.

O meme pode mostrar-se por meio de uma reprodução caricaturada, positiva ou negativa, do nosso cotidiano, costumes, cultura, crenças, política, sociedade e demais reproduções simbólicas. Portanto, eles podem servir para uma análise de formatação representativa, que determina noções de comportamento e moralidade a partir de um referencial. Propor a análise e a criação de memes com temas relacionados a fatos históricos, inserindo-os nas práticas educativas, pode contribuir para uma aprendizagem mais concreta e simbólica.

 

2 | O MEME COMO RECURSO PEDAGÓGICO

Objetivamos, ao utilizar como recurso pedagógico essa forma de comunicação tão popular nas redes sociais, tornar a disciplina de História mais atrativa e significativa aos alunos. Procuramos traçar um paralelo entre os memes com conteúdos históricos compartilhados nas redes sociais, em especial o Facebook, com as discussões realizadas nas aulas de História, posteriormente, possibilitar que os estudantes criem seus próprios memes relacionados aos assuntos estudados. Seria um momento de troca de experiências e práticas principalmente entre docente, munido de uma formação que tende a uma postura parceira e mediadora na aquisição crítica e consciente de conhecimentos e, discentes, com desenvoltura tecnológica mais hábil e atualizada em comunidades virtuais e redes sociais.

É perceptível a importância e a dificuldade de se criar condições para uma aprendizagem significativa em sala de aula que, de acordo com Ausubel (1978), é aquela na qual as ideias simbolicamente expressas se relacionem de forma substantiva (não-literal) e não arbitrária com a estrutura cognitiva prévia do aprendiz em algum aspecto relevante. “Este aspecto especificamente relevante pode ser, por exemplo, uma imagem, um símbolo, um conceito, uma proposição, já significativo.”(p.41).

Utilizar os memes como estratégia pedagógica, especificamente em História, conhecida por ser uma disciplina muito conceitual e de difícil assimilação por parte dos alunos, tem contribuído para criar novos significados às percepções de fatos históricos muitas vezes distantes da realidade dos nossos alunos. Além disso, os memes podem ser um instrumento educacional útil para promover o letramento digital e trabalhar temas da atualidade em geral.

Trabalhar conceitos e fatos históricos com o auxílio de memes é trazer para a sala de aula visões múltiplas de mundo, de realidades, percepções e humor que contribui, de forma inovadora e atual, com a contextualização e assimilação de temas complexos para nossos estudantes.

2.1 Memes na sala de aula

Os memes podem ser utilizados em diversos momentos de uma sequência didática –no levantamento de conhecimentos prévios dos estudantes, como uma maneira de estimular a atenção e discussões sobre o tema da aula ou mesmo como instrumento de avaliação da aprendizagem.

Apesar da grande popularização desse gênero textual, antes de incluir o meme como recurso didático, é importante conversar com a turma sobre o que é considerado um meme e quais suas finalidades. Após essas reflexões o professor pode partir para a análise dos memes selecionados previamente.

No exemplo abaixo, o meme tem a finalidade de iniciar discussões sobre a Segunda Guerra Mundial partindo de eventos atuais. Temos uma notícia sobre a ameaça do Estado Islâmico realizar ataques na Rússia e imagens de dois personagens históricos – Napoleão Bonaparte e Hitler – desejando boa sorte. A imagem e as informações textuais instigam os estudantes a querer compreender os fatos históricos relacionados no meme, o que enriquece e torna mais significativo esse momento de aprendizagem. Vejamos:

image-1632328293092.pngFigura 1. Meme.

Fonte: http://www.naoentreaki.com.br/10580250-boa-sorte.htm

Nesse outro exemplo, para compreender as ideias e conceitos apresentados no meme, os estudantes precisam ter conhecimentos sobre o período republicano brasileiro, especificamente a fase da República do Café com Leite e a Revolução de 1930. Vejamos:

image-1632328333230.png

Figura 2. Meme

Fonte: https://www.facebook.com/groups/936795283117307/

A produção de memes pelos alunos pode ser uma forma estimulante de finalizar os estudos sobre determinados fatos históricos. Desperta o interesse dos adolescentes que precisam compreender os fatos estudados para serem capazes de criar um meme que, ao mesmo tempo, divirta e transmita uma ideia relacionada ao que foi estudado. Vejamos abaixo, três criações realizadas por estudantes:

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Figura 3. Meme

Fonte: https://www.facebook.com/fabricadememesbalthazar/

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Figura 4. Meme

Fonte: https://www.facebook.com/fabricadememesbalthazar/

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Figura 5. Meme

Fonte: https://www.facebook.com/fabricadememesbalthazar/

Como podemos perceber, o meme tem uma dialética composicional própria; para conseguir identificar os discursos neles contidos, é preciso ter algum conhecimento sobre a temática abordada e realizar uma leitura profunda da imagem apresentada.

3 | METODOLOGIA

Para iniciar esse estudo, primeiramente fizemos uma análise documental e leitura de obras acadêmicas, teses, dissertações, periódicos, planos de aulas, livros, divulgações provenientes de órgãos oficiais, acerca dos principais desafios enfrentados no Ensino de História e os meios de interações sociais virtuais.

Analisamos páginas da internet e redes sociais para selecionar os memes que seriam trabalhados em sala de aula. Escolhemos os conteúdos que seriam trabalhados e quais habilidades iríamos priorizar para a análise e construção de memes.

Contamos com a participação de alunos do Ensino Médio, com idade média entre 14 e 17 anos de uma Escola Pública Estadual de Araçatuba, Estado de São Paulo.

Além das aulas expositivas e dialogadas, como instrumentos para coleta de dados utilizamos a observação participante e a elaboração de atividades pedagógicas com memes. As atividades foram realizadas durante as aulas de história, ministrada pela professora.

4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES

A utilização de memes como proposta pedagógica para proporcionar uma aprendizagem significativa no componente curricular de História tem alcançado os objetivos propostos no sentido em que tem proporcionado aos alunos um conhecimento participativo, solidário e contextualizado. A atenção e participação nas aulas têm melhorado bastante, pois é preciso compreender bem os conceitos e conteúdos trabalhados para transformá-los em um meme, além disso, a utilização de recursos tecnológicos para a criação dos memes contribui com a capacidade colaborativa dos alunos tendo em vista que alguns possuem mais facilidades ou conhecimentos na utilização desses equipamentos e programas, acabam auxiliando outros colegas que não possuem.

Para estimular a criação de memes, criamos uma página no Facebook para divulgar as produções dos estudantes. Para os memes serem aprovados pelo moderador é preciso que ele retrate corretamente conceitos históricos e tenha uma mensagem humorística, crítica ou surpreendente. Há uma grande expectativa do criador do meme em relação aos compartilhamentos, curtidas e comentários em sua produção. Isso tem estimulado a participação de alunos que demonstravam apatia e desinteresse pela matéria o mesmo conhecimento.

REFERÊNCIAS

AUSUBEL, D.P., NOVAK, J.D. and HANESIAN, H. Educatiollal psychology: a cognitive view. 2. ed., Nova York, Holt, Rinehart and Winston, 1978.

BLACKMORE, Susan. The Meme Machine. Oxford, Reino Unido: Oxford University Press, 2000.

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FACEBOOK. Nação dos Memes Históricos. Disponível em https://www.facebook.com/ groups/936795283117307/. Acesso em abril de 2018.

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Matriz de avaliação processual: geografia e história, ciências humanas; encarte do professor. Secretaria da Educação; coordenação, Ghisleine Trigo Silveira, Regina Aparecida Resek Santiago; elaboração, equipe curricular de Geografia e de História. São Paulo: SE, 2016.

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SANTOMÉ, J. T. Globalização e Interdisciplinaridade: o currículo integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

SAVAZONI, Rodrigo; COHN, Sérgio (orgs). Cultura Digital.br. Rio de Janeiro: Beco do Azougue Editorial Ltda, 2009.

PERRENOUD, P. et al. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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