Capítulo 30

CULTURA E TECNOLOGIA NO ENSINO DE INGLÊS NA PÓS-MODERNIDADE Joyce Vieira Fettermann Sonia Maria da Fonseca Souza Annabell Del Real Tamariz DOI 10.22533/at.ed.75319180430

RESUMO | ABSTRACT

RESUMO: Este capítulo tem como objetivo discutir como a cultura pode (e deve) ser trabalhada de forma a contribuir com a produção da linguagem no ensino de língua inglesa e como a internet e seus recursos podem ser associados a esse processo. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, com análise de materiais de ensino de inglês, como unidades em lições de livros didáticos, atividade realizada e blog. Como resultados, destacamos que a arte, representada aqui pela música, pelo cinema e por obras de arte, podem estimular a produção da linguagem, bem como a prática da língua através do exercício das habilidades de leitura, escrita, compreensão oral e fala, do compartilhamento de informações por meio de debates e discussões, motivando tanto alunos como professor a se despertarem para o conhecimento de diversas culturas. Por fim, concluímos que pelo fato de a língua e a cultura não se separarem, torna-se imprescindível que elas sejam trabalhadas com base em contextos, para que os aprendizes sejam mergulhados em situações comunicativas relevantes. Além disso, o professor deve estar constantemente atualizado, para que tenha condições de apresentar novas alternativas de criação de conteúdos aos alunos, a partir de suas vivências em sala de aula, proporcionando-lhes novas formas de apreciar e compartilhar experiências culturais, e contribuindo para que eles possam explorar novas - e cada vez mais dinâmicas - práticas de linguagem nesses tempos pós-modernos.

ABSTRACT: This chapter aims at discussing how culture can (and should) be worked in a way that it contributes with the production of language in the English language teaching and how the internet and its tools can be associated to this process. It is a bibliographic research, with analysis of English Teaching materials, such as units in lessons of didactic books, and a blog. As results, we highlight that art, represented here by the music, movies and works of art can stimulate the production of language, as well as the practice of language through the exercise of reading, writing, listening and speaking skills, the information sharing through debates and discussions, motivating both students and the teacher to give attention to the knowledge of different cultures. Finally, we conclude that due to the fact that language and culture do not split up, it becomes essential that they are worked based in contexts, so learners are submerged in relevant communicative situations. Besides, the teacher should be constantly updated, to have conditions to present new alternatives of creation of content to students, based on their classroom experiences, providing them with new ways to appreciate and share their cultural experiences, and also explore new - e even more dynamic - language practices in these postmodern times.

1 | INTRODUÇÃO

Qual o lugar da cultura no ensino de inglês? Como língua e cultura podem ser ensinadas em conjunto, de maneira que o aprendiz seja mergulhado em contextos significativos de aprendizagem? Como a tecnologia pode contribuir nesse processo? No decorrer deste capítulo, tentamos responder esta e outras perguntas que norteiam esta discussão.

Ensinar um idioma requer tanto o conhecimento de suas estruturas e modos de comunicá-lo como das culturas que o envolvem. Com relação à língua inglesa, tendo em vista os vários países que a têm como língua oficial, abre-se um leque de opções de aspectos culturais sobre os quais ensinar, enriquecendo as aulas ainda mais. Isto pode trazer ao professor inúmeras possibilidades de inovar e dinamizar seu planejamento e de levar os alunos além das paredes da sala de aula.

Hoje, com o advento das tecnologias digitais, fica ainda mais fácil “viajar” com uma turma para qualquer lugar e explorar as características e variações da língua que ele oferece, os costumes, pratos típicos, eventos artísticos e culturais, curiosidades e atrações turísticas, entre tantos outros. Vários filmes, séries, desenhos animados e vídeos podem proporcionar atividades prazerosas que visem ao conhecimento de novas culturas através de experiências linguísticas.

Utilizando o Google Maps, por exemplo, é possível “andar” pelas ruas de qualquer cidade sem ter passaporte ou precisar ficar em um avião por horas, e trabalhar características dos lugares e pontos turísticos, discutir como ir a determinados lugares (usando o meio de transporte mais adequado), enfim, são muitas as possibilidades de inovar e estimular a imaginação dos alunos. Através de um tour virtual, podemos visitar museus, como o museu do Louvre, por meio do uso da realidade virtual, e explorar suas obras de arte, desenvolvendo discussões sobre tópicos específicos que se encaixem aos objetivos da aula. Desse modo, torna-se possível trazer o mundo para a sala de aula, ao mesmo tempo em que ela é transportada para novos espaços.

Introduzir o aprendiz nesse contexto pode contribuir ricamente para ampliar seu conhecimento através de aulas criativas e relevantes que imitem situações reais de aprendizagem. Nesse sentido, sempre que possível, a cultura deve ser incutida nas diversas áreas do currículo escolar.

Assim, no decorrer do trabalho, discutiremos sobre a tecnologia e a pós-modernidade, apontando algumas características desse tempo e como as pessoas têm se relacionado através dos usos das ferramentas tecnológicas, principalmente para fins de aprendizagem. Ainda, discorremos sobre as implicações da cultura no ensino de inglês, tendo em vista a importância de não os separar, pois o ensino é enriquecido pela cultura. Dessa maneira, a arte pode ser uma promotora de cultura na aprendizagem de inglês. Por fim, destacamos que as tecnologias podem ser aliadas nesse processo, motivando os aprendizes a aprender e a compartilhar conhecimentos.

 

2 | SOBRE A TECNOLOGIA E A PÓS-MODERNIDADE

Souza (2003) enfatiza que a transformação social é o maior benefício proporcionado pelas tecnologias, considerando a troca de conhecimento entre as pessoas através da reciprocidade, conceitos também abordados por Perrenoud (2000), sobre as competências fundamentais em uma cultura tecnológica.

Assim, notamos o quanto as ferramentas tecnológicas têm reforçado a contribuição dos trabalhos pedagógicos e didáticos nos últimos tempos, permitindo que situações produtivas de aprendizagem sejam criadas e que os envolvidos nesse processo interajam e compartilhem informações. Vivenciamos hoje uma mudança de paradigma, uma vez que os docentes têm se concentrado na criação, na gestão e na regulação de situações diversas de aprendizagem.

Nessa perspectiva, pesquisas vêm sendo realizadas no campo da tecnologia educacional, visando desvelar como ela pode ser utilizada no ensino e na aprendizagem, transformando esse meio e trazendo novas possibilidades de ensinar e aprender.

Segundo Kenski (1998), “[...] o estilo digital engendra, [...] novos comportamentos de aprendizagem, novas racionalidades, novos estímulos perceptivos [...]”. (KENSKI, 1998, p. 61). Paiva (1995) ressalta que a tecnologia da informática evoluiu rapidamente e o computador e seus periféricos passaram a integrar todas as tecnologias da escrita, de áudio e vídeo, já inseridas na sociedade, como máquina de escrever, imprensa, gravador de áudio e vídeo, projetor de slides, de vídeo, rádio, televisão, telefone e fax. Algum tempo depois, os recursos de comunicação instantânea deram impulso às interações por mensagem escrita com acréscimo gradual de recursos de vídeo e áudio.

No entanto, no século XXI a internet entrou em uma nova fase, em que seu usuário deixou de ser mero consumidor de conteúdo e passou a ser um produtor. A partir de então, começaram a surgir novas redes de relacionamentos e ambientes sociais no âmbito digital. Hoje, Twitter, Facebook, blogs, repositórios de vídeos como o Youtube, enciclopédias feitas por colaboração de usuários, como a Wikipédia, e aplicativos diversos, como o Whatsapp, permitem que as pessoas usem a língua em experiências variadas de comunicação.

Portanto, em meio a tudo isso, como defende Lévy (1996), ensinar se torna sinônimo de colocar desafios para que o aprendiz pós-moderno aprenda a pensar, processo no qual o professor se torna um “animador” da inteligência coletiva dos alunos por quem está responsável, de modo a acompanhar e gerir as suas aprendizagens. O computador e a Internet, então, enquanto meios pedagógicos e tecnológicos à disposição do professor, se tornaram mediadores no contexto educativo e as necessidades dos alunos, dando a estes uma razão para a aprender e com ela criar significados.

Hall (2004, p. 15) destaca duas características importantes da pós-modernidade: as transformações do tempo e do espaço e o desalojamento do sistema social – “a extração das relações sociais dos contextos locais de interação e sua reestruturação ao longo de escalas indefinidas de tempo e espaço”. O pesquisador aborda a maneira como os indivíduos são formados subjetivamente por meio de sua participação em relações sociais mais amplas (apresentando-se em diversas situações) e como os processos e as estruturas são sustentados pelos papéis desempenhados/negociados nesse contexto.

Lyra (2009) afirma que este tempo pode ser simbolizado pela internet e dinamizado pelo celular, que diminuiu as distâncias ao simples toque de uma tecla, dispensando a necessidade de locomoção, de desperdício de tempo e de grandes gastos. Segundo ele,

É um novo lugar, não apenas de comunicação, mas de existência: muita coisa se consuma nesse espaço virtual, numa nova forma de relacionamento entre as pessoas: vencidas as barreiras físicas, que no passado bloqueavam o intercâmbio dos povos, hoje estamos todos em contato, simultâneo e universal. Tanto quanto uma 2ª forma de vivenciar a cultura, o ciberespaço acabou criando também uma 2ª forma de viver, e não apenas em sites específicos (LYRA, 2009, p. 5).

A esse respeito, em 27 de junho de 2017, o Facebook atingiu a marca de dois bilhões de pessoas conectadas no mundo.

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Figura 1: Demonstrativo de usuários do Facebook

Fonte: Página de Mark Zuckerberg, no Facebook

Na figura 1, é possível verificar os lugares mais iluminados, sendo os que possuem mais usuários conectados, como destaca Zuckerberg, em sua página do Facebook em 2017: “Atualizado com 2 bilhões de pessoas. O mundo está um pouco mais iluminado agora”. Isto corrobora o quanto as pessoas têm gasto grande parte de seus dias se relacionando virtualmente, envolvidos nessa nova forma viver (LYRA, 2009; CAETANO; FETTERMANN; SOUZA et al., 2018).

Assim, há uma crescente demanda para a aprendizagem do inglês em todo o mundo na contemporaneidade e como o sujeito deste tempo possui um papel diferenciado frente à nova realidade cultural apresentada. Desse modo, partindo do pressuposto de que a internet hoje se tornou um espaço sociointerativo, acreditamos que no momento em que um estudante entra em contato com novas culturas e pessoas que falam um idioma diferente do seu através de uma rede social online, ele passa a assimilar novas informações instantâneas, de maneira autêntica, já que estará em contato direto com um falante nativo da língua, podendo, então, relacionar-se com o mesmo, colocando em prática e aprimorando seu conhecimento da língua inglesa, anteriormente construído (FETTERMANN, 2012). Assim ele se torna exposto a um leque de possibilidades culturais, inserindo-se no contexto linguístico do idioma pretendido, o que pode contribuir para a aquisição espontânea e natural desse idioma (KRASHEN, 1982).

Desse modo, a Web se torna um meio eclético, visto sob sua perspectiva de inclusão multilinguística, que não apenas oferece condições para abarcar estilos diversos dentro de uma linguagem, mas também passa a ser um abrigo para todas línguas e linguagens – uma vez que suas comunidades têm uma tecnologia de computador que é operável. De fato, com a globalização da internet, a presença de outras línguas tem aumentado de modo estável (CRYSTAL, 2002, p. 216).

3 | IMPLICAÇÕES DA CULTURA NO ENSINO DE INGLÊS

Como assinala Met (2006), os professores que inserem a cultura aos objetivos do currículo escolar podem enriquecer a educação, porque, dessa forma, a aprendizagem dos alunos se torna integrada, ao invés de fragmentada.

Assim, ressalta a autora:

Aqueles que trabalham com aprendizes de inglês podem e devem assegurar que planejar inclui a atenção às necessidades socioculturais dos estudantes, à informação cultural e às atitudes que os ajudarão a compreender uma nova cultura e a reforçar atitudes positivas para sua cultura de origem (MET, 2006, p. 166, tradução própria).

Tomando o que foi dito pela estudiosa supracitada, revela-se a importância de o professor de inglês valorizar também a cultura local em que os estudantes estão inseridos, levando-os a refletirem sobre o lugar a que pertencem, suas raízes, sua língua materna, os costumes que o fizeram ser quem são.

Nessa perspectiva, Selasi (2014), em sua apresentação no TED Talks (Don’t ask where I come from, ask where I’m a local), chama a atenção para o fato de que “[...] há muito a ser dito pela história nacional”. Por esse motivo, não podemos ignorar a riqueza cultural que lhes permite um ponto de partida sobre o que falar e a imaginação de um mundo totalmente novo, a partir do seu.

Assim, os aprendizes devem, antes, familiarizar-se com a ideia de que eles fazem parte de uma cultura e ao explorá-la, poderão “refletir os valores, expectativas, tradições e costumes de outros povos com um grau elevado de objetividade intelectual” (BRAWERMAN-ALBIN; WERNER; MARTINEZ, 2013, p. 125).

Por conseguinte, o ensino da cultura pode motivar o estudante de língua inglesa, uma vez que o ajuda a observar semelhanças e diferenças entre vários grupos culturais, diminuindo suas chances de fazer pressuposições inapropriadas sobre sua cultura em relação a outras (GENC; BADA, 2005). Por exemplo, ao estudarem características de cidades do Brasil, o aluno estará mais familiarizado com alguns fatos a elas relacionados, o que não permitirá que em outro momento ele faça comentários negativos que possam estereotipar moradores de determinados lugares, seja por sua etnia, sotaque, nível social ou costumes.

Portanto, cabe alertar que o professor evite o risco de julgar as culturas de outros países inadequadamente, evitando que surjam opiniões que levem os alunos a conclusões infundadas. Desse modo, como relatam Brawerman-Albin, Werner e Martinez (2013), olhar a cultura do outro é ter a possibilidade de considerar a sua própria sob nova perspectiva.

Nesse contexto, o professor de inglês tem a tarefa de:

[...] estimular o interesse dos alunos pela cultura e ajudar na formação da ideia de que a aula de língua estrangeira (LE) não é um momento exclusivo de ensino de linguagem, mas uma oportunidade de diferentes tipos de aprendizagens através de interações entre os participantes (BRAWERMAN-ALBIN; WERNER; MARTINEZ, 2013, p. 125).

Desse modo, não há como separar língua e cultura na sala de aula, pois ambas estão intimamente ligadas e, juntas, podem dirimir um problema apontado por Leffa (2002), que uma pessoa pode enfrentar quando precisa falar em uma língua estrangeira: não saber suficientemente aquela língua e cultura para entender o que ouve ou dizer realmente o que deseja no momento apropriado.

Logo, a partir do momento em que a sala de aula de inglês passa a ser percebida como um ambiente no qual existe um contexto cultural, essa conexão entre língua e cultura se torna aparente, permitindo que os alunos aprendam e busquem negociar significados entre as línguas e culturas nativa e alvo e, então, passem a compreender melhor a comunidade-alvo (KRAMSCH, 1993).

Assim, agregar cultura ao idioma estudado pode facilitar o entendimento de outras culturas como fontes enriquecedoras de conhecimento; acarretar uma consciência cultural nos alunos; atualizá-los em tópicos recorrentes ou incomuns sobre culturas diversas; gerar consciência sobre a cultura local e as internacionais; desenvolver o pensamento crítico dos alunos; entre outros (BRAWERMAN-ALBIN; WERNER; MARTINEZ, 2013).

Torna-se primordial, então, que eles sejam mergulhados em contextos significativos desde o início do aprendizado, em que possam vivenciar a língua e a cultura de forma a entenderem o novo idioma estudado da forma mais natural possível. Para tanto, atividades que envolvam dramatizações, brincadeiras, culinária, músicas, filmes, meio ambiente, datas comemorativas, enfim, são altamente recomendadas para estimular a linguagem que será produzida nesses momentos de aprendizagem e descontração.

As tecnologias, nesse sentido, podem ser grandes aliadas, devido ao vasto campo de materiais disponíveis, além das possibilidades de comunicação que podem ser exploradas nos ambientes virtuais. Como exemplo, citamos o rápido acesso às músicas pelos aplicativos diversos e através de vídeos no Youtube; filmes e séries na Netflix; jogos virtuais, sites de atividades com quadrinhos, estórias, poemas e outros, que podem contribuir significativamente com o ganho linguístico que se dá por meio de vocabulários, tempos verbais, variações linguísticas, no que se refere às gírias, sotaques de diferentes lugares onde o idioma inglês é falado, bem como suas particularidades locais e culturais, que enriquecem a produção da linguagem.

Surgem também os ambientes virtuais de aprendizagem, que permitem que o estudante pratique lá o que aprende na sala de aula presencial. É o caso, por exemplo, da rede social My English Club (http://www.myenglishclub.com/), um espaço digital em que falantes e aprendizes da língua inglesa interagem, a fim de praticarem o idioma. Nela, podemos perceber a sociodiversidade cultural como aporte para a aquisição do conhecimento ali provido.

A utilização da rede My English Club, por ser um ambiente repleto de signos (VYGOTSKY, 1984) – linguagem oral e escrita, sistema numérico –, facilita a comunicação, proporcionando aos usuários o aumento cultural não somente em nível local, mas também mundial. Ressaltamos que nesse ambiente são veiculados assuntos de diversas partes do mundo: cardápios, comportamento, literatura, religião, política, relações sociais, entre outros, além da própria língua (FETTERMANN, 2012).

Torna-se importante destacar que a partir das mudanças ocorridas nestes tempos, outras tecnologias, como os materiais didáticos, são revisitadas, a fim de aproximar os aprendizados das realidades dos alunos (e vice-versa), passando a assumir novos formatos e espaços, como é o caso dos materiais adaptados para as lousas interativas, que se conectam à internet, possibilitando um alcance ainda maior de conteúdos trabalhados no livro.

Fazendo uso dessas e de outras ferramentas, a sala de aula tem seus espaços ampliados ou, até mesmo, invertidos a qualquer momento, dando novas perspectivas ao aluno e ao professor e permitindo que ambos vivenciem a língua de forma mais prática, em situações comunicativas da vida real.

3.1 Arte como promotora de cultura na aprendizagem de inglês

Para ilustrar como a cultura deve estar sempre presente no processo de ensino e aprendizagem de inglês, elencamos algumas formas de arte, destacando a música, o cinema (filmes) e obras de arte, como a escultura e a pintura, que podem contribuir significativamente com ganhos linguísticos e culturais através do idioma estudado, gerando discussões, debates, entre outros. As atividades aqui apresentadas tratam-se de relatos de práticas realizadas com alunos de uma das autoras deste capítulo em cursos livres ou são possibilidades a serem utilizadas.

3.1.1 Música

A música é uma arte que pode trazer muitos benefícios ao aprendiz da língua inglesa, por estar presente em seu cotidiano e possibilitar que a aprendizagem formal aconteça de maneira descontraída e informal nos diversos ambientes de ensino. Ela pode despertar sensações que permitem que seus ouvintes se abram para novos conhecimentos, e é uma ótima maneira de conectá-los a novas culturas.

Amorim e Magalhães (2008, p. 103) destacam que a música, “com o seu poder mágico de despertar lembranças e sentimentos nas pessoas”, pode acalmar e ensinar. Além disso, em geral, “ela colabora para estimular o raciocínio, provocando em quem a ouve a construção de significados sociais, pessoais e culturais” (SANTOS; OLIVEIRA, 2013, p. 744).

Nesse sentido, cada vez mais os materiais didáticos de inglês trazem elementos musicais em suas unidades, buscando unir seus conteúdos ao prazer de ouvir e cantar, praticando, então, as habilidades de compreensão auditiva e oral (listening e speaking), e estimular a reflexão crítica sobre o assunto abordado. Além das letras de músicas, nas quais são explorados significados de palavras e frases, tópicos gramaticais, gírias, pronúncias, entre outros, torna-se relevante trabalhar os variados estilos, ritmos da língua-alvo, a vida dos artistas que as compõem e/ou interpretam etc., buscando expandir as possibilidades de diálogo e interação entre os estudantes.

Iniciando um tópico de discussão sobre a música no passado e no presente, por exemplo, os alunos têm a oportunidade de explorar, além dos estilos musicais e artistas apresentados na unidade de um livro didático, outros que costumam ouvir, acrescentando informações que já eram de seu conhecimento. Assim, tornase possível praticar a leitura, a compreensão auditiva e a oral, além da escrita, na interpretação de texto. Além dessas habilidades, integrar esse tema nas aulas de inglês pode gerar oportunidades de aperfeiçoamento de estruturas gramaticais, abordando um pouco sobre a vida de artistas. Um exemplo disso pode ser observado no livro American English File 3A, da Oxford University Press, que introduz a gramática contextualizando-a com um texto comparativo sobre Bob Marley, usando o tempo verbal Simple Past (Exemplo: He had eleven children), e seu filho Ziggy Marley, no Present Perfect (Exemplo: He has won four Grammy awards).

A música Glory, de John Legend, trabalhada com um grupo de alunos do nível avançado em um curso livre de inglês, traz possibilidades interessantes. O assunto da aula foi a luta dos negros pelos direitos civis nos Estados Unidos por liberdade e igualdade, no período entre 1955 e 1968. Discutimos sobre o episódio que marcou o início do movimento, que aconteceu no Sul do país, em Montgomery, quando a costureira negra Rosa Parks entrou em um ônibus de volta para casa após um dia de trabalho, sentou-se nos bancos da frente, local proibido aos negros pelas leis segregacionistas do estado na época, e se recusando a levantar-se, foi presa, sendo denominada, a partir de então, pelos negros, como a Mãe dos Direitos Civis.

Durante a atividade, foi possível trabalhar, além de pronúncias de palavras, rimas, variações regionais, abreviações, características da oralidade na escrita, interpretação de texto, entre outros pontos. Assim, retomamos o que afirma Met (2006), ao destacar a relevância de o professor de inglês assegurar que seu planejamento inclua a atenção às necessidades socioculturais dos estudantes, às informações culturais e às atitudes que podem ajudá-los a compreender uma nova cultura.

Destacamos a importância da contextualização das atividades relacionadas à música, pois através disso torna-se possível abordar não somente aspectos linguísticos relacionados à sua letra, mas também discutir diversos assuntos, possibilitando ao aluno ampliar conhecimentos específicos e de mundo, além de “refletir sobre a realidade socioeconômica, política e cultural do país e o papel de seus habitantes enquanto cidadãos” (WOYCIECHOWSKI, 2008, p. 5).

De fato, a música pode contribuir significativamente para o aprendizado de línguas. A Universidade Federal de Minas Gerais, por exemplo, ciente dessa contribuição, disponibiliza em seu site um espaço voltado para dicas de links com atividades voltadas para a aprendizagem de inglês através de músicas. Nele é possível encontrar vídeos, áudios, letras de músicas e tarefas variadas para treinar tópicos específicos da língua inglesa como reduções, contrações, consoantes surdas, gírias etc., em exercícios de compreensão oral, gramática, vocabulário e pronúncia, para todas as idades.

3.1.2 Cinema

Segundo Araújo e Voss (2009), o cinema detém a verdadeira expressão da realidade, uma vez que parece reproduzir o que é visto no cotidiano. Isso pode ser explicado em termos psicológicos e cognitivos, e sua importância para a formação do sujeito está na maneira como o espectador percebe a obra, como opera cognitivamente para apreendê-la.

A possibilidade de compartilhamento de sentimentos, devido ao realismo imaginário presente na linguagem cinematográfica, pode servir de base para a aquisição de conhecimentos, demonstrando como o processo cognitivo acontece. Por isso,

[...] o cinema, por manipular psicologicamente o espectador, provoca tais processos e pode se constituir pedagogicamente em um acionador cognitivo para consolidar regras gramaticais e vocabulário, sugerindo que o aprendizado de um idioma pode ir mais além do que a simples memorização de palavras e expressões idiomáticas (MARTINS, 2014, p. 178).

Pelo fato dessa linguagem provocar sensações nos espectadores, como alegria, empatia, curiosidade, boas lembranças, entre outras, assim como a música, o filme pode contribuir sobremaneira na aquisição e no aprimoramento da linguagem e incentivar a produção interdisciplinar, envolvendo temas como natureza, diversidade cultural, respeito aos idosos etc., o que pode ser verificado no filme Up – Altas aventuras (Disney/Pixar, 2009).

O blog Movie segments to assess grammar goals disponibiliza atividades sobre partes de filmes que podem ser trabalhadas por professores nas aulas de inglês. Como exemplo, ao trabalhar textos narrativos, ele traz o filme La la land, demonstrando como esse tipo de texto é escrito, o que o constitui, para que os alunos possam produzir um a partir da explicação dada:

Narrative writing is formatted like a story. This means all narrative writing has a setting and plot with characters, conflict and resolution, and a beginning, middle and end. Even pieces that are not themselves stories are written with the same structure. Like most forms of writing, narratives have a message for the reader. Unlike other forms of writing, this message is usually implied through the events of the story and the decisions or dialogue of the characters rather than explicitly spelled out.

There are many different transition words you could use to let your audience know the events in your narrative. You could use first, next, then, and last. You could use first, second, third, and finally. You could start with first of all, afterwards, soon after that, and later (Disponível em: <http://moviesegmentstoassessgrammargoals.blogspot.com.br/>. Acessado em: 20 jun. 2017).

Após conhecer como se dá a construção de um texto narrativo, o aluno pode iniciar sua construção, com base na estória do filme assistido em sala de aula, expondo-se a um leque de possibilidades culturais e, assim, sendo inserido no contexto linguístico da língua inglesa, o que pode contribuir para a aquisição espontânea e natural desse idioma (KRASHEN, 1982), tendo em vista a linguagem atual e cotidiana explorada nessa forma de arte.

3.1.3 Obras de arte

À primeira vista, pode parecer que as obras de arte, como a pintura, a escultura e outras exposições, não são a melhor opção para motivar a produção da linguagem, por serem objetos de contemplação. No entanto, assim como a música e o cinema, elas despertam a sensibilidade e sensações, como o prazer pelo tema abordado, pela forma ou linguagem como é apresentada (LYRA, 2017, em sala de aula). Logo, servem para gerar discussões, compartilhar informações, motivando a prática e o aprimoramento da língua nas formas oral e escrita. Esse processo gera conhecimentos de novos vocabulários, pronúncias, tempos verbais, sem falar no ganho intelectual e cultural compartilhado.

Sob esse aspecto, observamos as imagens de obras expostas na introdução de uma unidade do material didático American English File 5A, de nível avançado. Dentre elas, My Bed, de Tracey Emin, como mostra a Figura 2, criada em 1998, em resposta a uma crise de depressão que a artista viveu após o fim de um relacionamento, provoca o pensamento do leitor.

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Figura 2: My bed (Tracey Emin)

Fonte: Google Imagens

A partir dessas imagens, foi possível iniciar uma conversa, motivada pela professora, através de perguntas relacionadas à frequência com que os alunos vão ao museu ou a exposições, tipos de arte que apreciam, o que os atrai em uma obra de arte, se eles conhecem as obras presentes em seu livro, o que eles acham que elas representam, entre outros. Nesse processo, surgiu a oportunidade de ativar seus conhecimentos prévios da língua e de mundo, auxiliá-los com novos vocabulários, a utilização de verbos e tempos verbais apropriados, pronúncias de palavras etc.

Na mesma unidade é proposto o trabalho com a biografia de artistas, levando o contexto de suas produções em consideração, o que promove o exercício de habilidades essenciais da língua (compreensão oral e auditiva, leitura, escrita e fala).

Atreladas ao material didático, como atividades extracurriculares, os alunos podem também realizar pesquisas, fazendo uso de tradutores online, que os auxiliarão na realização de trabalhos de casa e fixação dos assuntos estudados em aula. A participação em tarefas como essas evidencia a oralidade e a escrita como formas de representação da linguagem e cria meios de introduzir o aluno no universo da cultura e das artes, promovendo a interação entre os envolvidos no processo, e estimulando sua criatividade, a participação em assuntos diversos, além do crescimento intelectual e linguístico (BENEVENUTI, 2017).

4 | TECNOLOGIAS A SERVIÇO DA ARTE E DA CULTURA NA APRENDIZAGEM

Com a facilidade da autopublicação e transmissão de conteúdos nas mídias digitais (como as publicações de breves textos no Facebook, áudios no WhatsApp, imagens no Instagram e vídeos no Youtube) nesses tempos pós-modernos, torna-se possível a realização de projetos que envolvam a propagação dos conhecimentos artísticos, linguísticos e culturais construídos, confirmando o quanto a cultura e as artes podem, de fato, promover a criatividade de alunos e professores no processo de ensino e aprendizagem.

De fato, nos dias contemporâneos, simbolizados pela internet e dinamizados pelo celular (LYRA, 2009), tornou-se possível vivenciar a cultura de outra forma, mais presente, mesmo que de forma virtual. Portanto, apresentar novas alternativas de criação de conteúdos aos alunos, a partir de suas vivências em sala de aula, acaba por proporcionar-lhes novas formas de apreciar e compartilhar suas experiências culturais, contribuindo para que eles possam explorar novas - e cada vez mais dinâmicas - práticas de linguagem.

Assim, inserir, propositadamente, as tecnologias nesses processos de criação de conteúdo a partir do que foi ensinado pode motivar os aprendizes ainda mais a aprender (bem como compartilhar o que aprenderam), unindo suas capacidades de lidar com as diversas ferramentas às suas aprendizagens formais.

5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir este trabalho, retomamos os questionamentos feitos na introdução: qual o lugar da cultura no ensino de inglês? Como língua e cultura podem ser ensinadas em conjunto, de maneira que o aprendiz seja mergulhado em contextos significativos de aprendizagem? Como a tecnologia pode contribuir nesse processo?

Como afirmado anteriormente, língua e cultura andam de mãos dadas. Logo, podemos afirmar que ensinar uma língua sem se valer dos aspectos culturais que a formam é o mesmo que se limitar a ensiná-la de forma descontextualizada e longe das situações comunicativas nas quais os falantes são imersos diariamente.

Portanto, é necessário que o professor esteja atualizado, no que se refere à língua e às culturas dos países que constituem o idioma que ensina (não excluindo outras), aos contextos em que são usadas, bem como às ferramentas - em constante evolução - que podem ser utilizadas nesse processo, para que a aprendizagem não seja apenas superficial e os alunos não se tornem limitados ao colocarem em prática o que aprendem.

Assim, o conhecimento da cultura pode levar falantes a desenvolver e a utilizar a linguagem com maior propriedade, bem como o senso crítico-reflexivo, estimular a criatividade, podendo também despertar neles o interesse por culturas e artes, o que pode revelar até mesmo o desejo de se tornarem futuros artistas, considerando as tecnologias e ferramentas que podem ser utilizadas para a produção de sentido e o compartilhamento de experiências e novas aprendizagens com pessoas de vários lugares do mundo, jamais desprezando o seu lugar e a própria cultura.

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é fruto de reflexões realizadas na disciplina “A arte como representação social na pós-modernidade”, no primeiro semestre de 2017 no Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem da UENF, lecionada pelo saudoso professor e poeta Pedro Lyra (in memoriam), a quem agradecemos pelas conversas e considerações sobre cultura e arte.

Agradecemos, também, à FAPERJ/UENF pelo apoio financeiro às nossas pesquisas.

REFERÊNCIAS

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