Capítulo 28

BLOGÁRIO Ana Paula Martins Corrêa Bovo Andréa Lourdes Ribeiro Alanna Landim DOI 10.22533/at.ed.75319180428

RESUMO | ABSTRACT

RESUMO: De forma geral, o percurso do Blogário consiste na construção de um processo significativo de aprendizagem no ambiente universitário, envolvendo o uso do ciberespaço. A ideia é estimular os alunos a criarem textos coletivos, produzidos e compartilhados segundo a lógica dos blogs e dos glossários. Acreditamos que, dessa maneira, incentivamos, de forma concomitante, a apropriação de saberes próprios da esfera acadêmica, a reflexão sobre a vivência deste aprendizado e o uso do ciberespaço como possibilidade formative. O capítulo apresenta o que foi vivenciado até o momento na construção do Blogário, retomando ideias que inspiraram o planejamento metodológico desse processo de aprendizagem. A atividade Blogário é um percurso que possibilita a mescla do ensino-aprendizagem em sala de aula com o ambiente virtual, utilizando o Google Docs para a escrita colaborativa on-line e o Blogger para o compartilhamento dos textos ou verbetes produzidos.

ABSTRACT: In general, the course of the Blogário consists of building a significant process of learning in the university environment, involving the use of cyberspace. The idea is to encourage students to create collective texts, produced and shared according to the logic of blogs and glossaries. We believe that, in this way, we encourage, concomitantly, the appropriation of knowledge proper to the academic sphere, reflection on the experience of this learning and the use of cyberspace as a formative possibility. The chapter presents what has been experienced so far in the construction of the Blogário, retaking ideas that inspired the methodological planning of this learning process. The Blogário is a journey that allows the blend of teaching-learning in the classroom with the virtual environment, using Google Docs for online collaborative writing and Blogger for sharing the texts or entries produced.

1 | INTRODUÇÃO

A primeira experiência com o Blogário foi apresentada no CIET/ENPED 2018, promovido pela UFSCAR. A segunda experiência foi apresentada no Simpósio de Tecnologias e Educação a Distância no Ensino Superior, promovido pela UEMG. Para o presente capítulo, fazemos uma apresentação geral do que foi vivenciado até o momento, retomando ideias que inspiraram o planejamento metodológico do Blogário.

De forma geral, o percurso do Blogário consiste na construção de um processo significativo de aprendizagem da leitura e da escrita no ambiente universitário, envolvendo o uso do ciberespaço. A ideia é estimular os alunos a criarem textos coletivos, produzidos e compartilhados segundo a lógica dos blogs e dos glossários. Acreditamos que, dessa maneira, incentivamos, de forma concomitante, a apropriação de saberes próprios da esfera acadêmica, a reflexão sobre a vivência deste aprendizado e o uso do ciberespaço como possibilidade formativa. O processo foi pensado com o especial intuito de desenvolver, para além da apresentação de “regras” standartizadas que teoricamente ensinam como produzir determinados gêneros textuais, um percurso de aprendizado sobre a produção, a circulação e a recepção de gêneros discursivos, o que contempla também o desenvolvimento de uma postura autoral do aluno frente ao arcabouço conceitual que permeia a esfera acadêmica.

A proposta de criação de um espaço para o Blogário, a sua denominação e a dinâmica de desenvolvimento das atividades que compuseram o processo estão ligadas a reflexões que temos feito em grupos de estudo e pesquisa (como o Laboratório de Estudos sobre a Docência – LEDoc e o grupo Aprendizagem, Linguagens e Tecnologias Digitais) a respeito de certas concepções de aprendizagem e de língua. Tais propostas e dinâmicas estão igualmente imbricadas na necessidade de enfrentar o grande desafio que é a inserção das tecnologias digitais como recurso didático para a formação inicial e como ferramenta de ensino-aprendizagem para o futuro professor.

Nosso intuito, neste texto, é apresentar as experiências vivenciadas, as ideias que estruturaram a base do planejamento e também refletir, de acordo com a avaliação dos resultados, sobre as perspectivas para o futuro.

2 | CONTEXTUALIZAÇÃO

As dificuldades vivenciadas pelos alunos em seu processo de inserção na escrita acadêmica, dificuldades que parecem ser comuns às instituições de ensino superior, direcionam os currículos na roteirização dos saberes. Da mesma maneira, é comum o relato de estudantes que encontram dificuldades em disciplinas com conteúdo específico, que requerem compreensão teórica. Por isso, a escolha para o projetopiloto do Blogário foi a disciplina Leitura e Produção Textual.

Sem desconsiderar as dificuldades próprias do nosso alunado – muitas vezes geradas sim por um sistema de ensino com problemas estruturais e conjunturais – e a necessidade de trabalho com aspectos textuais, gramaticais e teóricos bastante específicos; para quem acredita num processo de aquisição e desenvolvimento da escrita e do conhecimento centrado nas práticas sociais concretas dos indivíduos, considerando as diversas ideologias, as relações de poder, a inserção do indivíduo na história, as culturas locais, as identidades e as relações entre os diversos grupos (STREET, 2014), fica evidente que os problemas relativos ao desenvolvimento da escrita na esfera acadêmica e à apropriação dos saberes teóricos próprios dessa esfera estão intimamente relacionados com as possibilidades (ou com a falta delas) de se estabelecer relações entre os conhecimentos já adquiridos pelos estudantes e os novos conhecimentos que eles devem desenvolver, além da falta de compreensão e, consequentemente, de significação, para o estudante, dos produtos gerados pelas atividades sociais típicas deste espaço – a produção científica.

Considerando o processo típico de todo aprendizado – que envolve sempre um certo “desconcerto” frente ao que ainda é desconhecido e alguma dificuldade inerente ao desenvolvimento de novos saberes, fazeres e agires –, é preciso, por outro lado, considerar a crescente distância entre as práticas culturais dos estudantes que estão entrando na universidade atualmente e as práticas próprias deste espaço. Afinal, grande parte das pessoas que entram hoje para cursar um curso de graduação vive uma cultura influenciada pelo grande (e vertiginoso até) desenvolvimento das TICs, das TDICs, da internet. Estamos em plena cibercultura, a qual convive com outras culturas, num processo permanente de múltiplas configurações sociais. Como nos lembra Rojo (2012), pensar a sociedade atual é pensar não somente na variedade de práticas letradas (reconhecidas ou não), mas considerar o profundo hibridismo dos processos e produtos. No livro Multiletramentos na escola, por exemplo, Rojo e Moura (2012), com base nesta ideia, procuram traçar caminhos para o desenvolvimento de um trabalho que normalmente envolve uso de “novas tecnologias”, entretanto, a proposta é partir das culturas de referência do alunado para ampliar o seu repertório cultural “em direção a outros letramentos”.

Considerando as dificuldades descritas acima e a necessidade de considerar o papel do professor enquanto sujeito que participa e que forma outros para participar das práticas sociais e comunicativas em circulação no ambiente virtual, o que engloba a atualização dos currículos das licenciaturas e a significação do ciberespaço em práticas de ensino-aprendizagem, fizemos a proposta do Blogário para turmas de Letras e Pedagogia da UEMG. (RIBEIRO; BOVO, 2018)

3 | IDEIAS INSPIRADORAS

Belloni (1999) retoma a ideia comentada por outros autores de que tecnologia e pedagogia sempre foram elementos fundamentais e inseparáveis na educação. Afinal, educar sempre foi um processo complexo que utiliza a mediação de algum tipo de comunicação como complemento ou apoio à ação do professor em sua interação pessoal e direta com os estudantes. A sala de aula, por exemplo, poderia ser considerada uma tecnologia de acordo com esta perspectiva. Embora a experiência humana tenha sido sempre mediada através da socialização e da linguagem, na modernidade, com as mídias típicas “de massa”, essa mediação cresce exponencialmente.

Desse modo, o conceito de educação híbrida (Bacich; Moran, 2015) parece muito inspirador porque instiga a pensar em várias “misturas” que envolvem os processos de ensino-aprendizagem, desde os tempos e espaços que se hibridizam atualmente com o uso cada vez mais frequente do ciberespaço e da internet na escola até os diversos modos de ensinar e aprender que sempre existiram, dentro e fora da escola, individualmente e em grupo, envolvendo diferentes tecnologias e diferentes saberes.

Igualmente, a ideia de que existe uma discrepância enorme entre o que se considera “saber importante” nas instituições escolares e o que é realmente significativo na vivência dos estudantes nos desafia a repensar as práticas educacionais, inclusive na universidade. O fato é bem demonstrado no estudo feito por Cassany & Hernandez (2012) sobre a estudante Mei, a qual, apesar de autora/mediadora/participante de vasta produção em diversos sítios da internet (blogs, fanfics, fóruns etc), não conseguiu entrar na universidade porque reprovou em algumas disciplinas do BAC (que corresponde ao nosso Ensino Médio), sendo considerada aluna “com muitas dificuldades”. O estudo de caso em questão aponta, com base em outros estudos de caráter etnográfico, a distância entre “as tarefas da vida” e “as tarefas da escola”. A tentativa que fazemos, por meio do artigo em questão, é considerar, mesmo sem se poder generalizar o estudo de caso, os resultados obtidos como importantes para se pensar a integração entre “la red, lo vernáculo y el académico”, tendo em vista que o vernáculo está ligado aos conhecimentos e ao modo de se expressar que marca a identidade em constituição do sujeito que aprende e que essas práticas, longe se mostrarem pobres ou caóticas, embora diferentes das práticas letradas de prestígio, são ricas, diversificadas e, especialmente, significativas na vida dos estudantes; constituindo-se, assim, em “ponto de partida” para o processo educativo. Ademais, é preciso levar em consideração que as práticas de linguagem (inclusive as mais tradicionais) são sempre dinâmicas e se interinfluenciam, mesmo que em ritmos diferentes.

Num outro texto de Cassany (Cassany; Castellà, 2010), o conceito de leitor crítico é discutido à luz de um quadro histórico da evolução dos conceitos letramento (literacidad) e crítica. A conclusão dos autores indica que, para compreender criticamente, é preciso realizar algumas ações, as quais implicam basicamente situar o discurso, reconhecer e participar das práticas discursivas e calcular os efeitos do discurso numa comunidade. Isso vai ao encontro, a nosso ver, tanto de uma perspectiva mais ideológica de letramento (como a define Street) quanto de uma concepção discursiva sobre linguagem.

A tela, como disse Magda Soares (2002), como novo espaço de escrita, traz significativas mudanças na vida e nas práticas sociais, devido ao tipo de interação que proporciona entre autor/texto/leitor. Aposta-se que essas mudanças tem trazido e ainda vão trazer inúmeras consequências e configurariam-se, por isso, num “estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela” (Soares, 2002, p.146).

Embora saibamos que existem concepções diferentes para o conceito de letramento, o que consideramos essencial para a reflexão (e para as ações que podem ser gestadas a partir dela) que desenhamos aqui é o reconhecimento das implicações que o conjunto das práticas sociais, em seus modos específicos de funcionamento, traz para o processo de construção das identidades e das relações de poder entre os sujeitos envolvidos, o que é apontado por Kleiman, por exemplo, já nos anos 90 (Kleiman, 2012). Entretanto, a mudança que resulta das pesquisas e estudos feitos em várias áreas do conhecimento sobre os processos educacionais em geral e sobre a aquisição e desenvolvimento da escrita em particular não é algo simples e nem acontece homogeneamente. Pedro Demo, por exemplo, chega a sugerir, tendo em vista (achamos) a imensa necessidade de renovação dos processos de ensino e aprendizagem, que o professor “abandone” sua “pasmaceira e a decomposição secular (...), emergindo como figura criativa de proa, capaz de puxar o processo correto de mudança social” (DEMO, 1993, p. 168).

Assim, mesmo que o processo de transformação social e, consequentemente, o de transformação da Educação, seja complexo e multifacetado, envolvendo diversos atores, evoluindo em ritmo considerado por demais lento muitas vezes, o papel do professor é (e talvez justamente por essas razões) extremamente importante, afinal, ele é o roteirizador responsável por traçar os mapas de navegação e orientar as rotas do processo, criando ambientes de aprendizagem, materiais e recursos potencialmente (e/ou virtualmente) produtivos.

Para que haja desenvolvimento de uma educação de fato “tecnológica”, ou seja, que integre criticamente as tecnologias (especialmente as digitais) e a internet na perspectiva do(s) letramento(s), é preciso haver a mudança das concepções e das metodologias. Afinal, atividades isoladas ou práticas isoladas perdem grande parte de seu poder de mudança e contribuição, justamente porque estão fora da lógica dominante. Mas, quando a mudança no micro vem acompanhada da problematização do macro, ela tende a ganhar força e ser acompanhada de outras mudanças também, em diferentes níveis. E por isso nos pareceu especialmente importante frisar que a proposta do Blogário nasce da contextualização descrita acima, da qual faz parte, fundamentalmente, o processo de reflexão sobre o currículo concomitantemente com a realização de pesquisas e os esforços de repensar as práticas educacionais.

4 | ATIVIDADES VIVENCIADAS

O Blogário está se constituindo, então, num espaço de escrita inspirado na lógica de duas práticas de linguagem: os blogs e os glossários. O “projeto- piloto” foi planejado e desenvolvido no ano de 2017 em duas turmas de primeiro período de cursos de Licenciatura da UEMG. A proposta, inicialmente, fez parte do conjunto de atividades da disciplina de Leitura e Produção Textual, a qual permitia, com a alteração realizada em sua ementa a partir deste mesmo ano (no novo Projeto Político Pedagógico), que se trabalhasse “a língua como atividade social”, compreendendo “o processo de autoria e a escrita no espaço acadêmico”. É importante dizer também que a proposta nasce a partir da experiência com a própria disciplina e inspirada pelo uso constante, como recurso de pesquisa especialmente, de verbetes e blogs indicados na bibliografia do curso e como apoio ao processo de familiarização dos estudantes com temas, modos de composição e também de estilo. Estes gêneros ou práticas, de forma geral, são mais facilmente compreendidos pelos ingressantes que outros textos próprios das práticas acadêmicas, como artigos científicos, ensaios etc.

A atividade foi processual e aconteceu durante todo o semestre envolvendo as seguintes ações no cronograma: 1) Pesquisa sobre os termos BLOG, VERBETE E GLOSSÁRIO; 2) Discussão sobre a proposta da atividade; 3) Oficina sobre criação de blogs, escrita colaborativa e QR Code.

Iniciamos também a experiência do Blogário com turmas de disciplinas teóricas como Fundamentos da Linguística, encarregada de apresentar as bases teóricas e epistemológicas de estudo da língua e da linguagem, para que o professor em formação compreenda as perspectivas de observação e de análise da língua/linguagem colocadas em discussão pelas vertentes do pensamento linguístico do século XX. Ao cursar a disciplina, o discente precisa realizar inúmeras leituras para a apropriação de conceitos e de termos teóricos. Esperamos com o Blogário dar mais significação ao aprendizado desse arcabouço teórico, tendo em vista que, para realizar a atividade, os discentes precisam colocar em prática suas habilidades de: a) leitura de artigos, capítulos de livros teóricos, dicionários de linguística, blogs; b) produção de fichamento e de conceitos; c) produção colaborativa on-line de verbetes.

A atividade Blogário é, em todas as experiências vivenciadas, um percurso que possibilita a mescla do ensino-aprendizagem em sala de aula com o ambiente virtual, utilizando o Google Docs para a escrita colaborativa on-line e o Blogger para o compartilhamento dos verbetes produzidos. Então, considerando os objetivos de compreensão do modo de produção, circulação e recepção de blogs e de glossários; a investigação, descrição e organização de conceitos e perspectivas teóricas e o planejamento de um texto escrito, a ideia era que os alunos conseguissem responder a uma demanda específica de produção escrita, a qual, ao mesmo tempo, é sempre uma criação conjunta, já que a própria definição do que seja o Blogário está sendo construída a partir das respostas das turmas a tal demanda.

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Figura 1. Blogário em construção.

Fonte: http://blogario-uemg.blogspot.com.br/2017/09/sobre-o-blogario.html

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Figura 2. Blogário em construção: verbete Resenha

Fonte: http://blogario-uemg.blogspot.com.br/2018/03/resenha.html

Desse modo, gostaríamos de falar um pouco mais de três procedimentos que consideramos de fundamental importância no processo: a pesquisa, as oficinas e a escolha dos verbetes. O intuito da pesquisa era fazer com que os alunos compreendessem mais plenamente a lógica de produção, circulação e recepção destes textos/suportes - os blogs e os glossários – os quais, de todo modo, já estavam presentes em suas práticas de leitura anteriores e/ou no âmbito da disciplina em questão. Alguns autores definem o blog como texto, outros o denominam suporte. Para nós, ele será uma prática. Uma prática “nascida” na “rede”, e bastante difundida. Atualmente, é utilizado com os mais diversos objetivos (noticiar, informar, orientar, comentar etc) entretanto, percebe-se que guarda uma intimidade com a intenção de “falar de si” ou de expor-se. Já o Glossário, definido por dicionários em geral como “conjunto de termos de uma área e seus significados”, é uma prática já antiga, a qual atende a diversos objetivos também, tornando-se, por vezes, conjunto de explicações sobre os termos de uma obra ou tendo outra finalidade similar. Atualiza-se, como todas as práticas de linguagem, tornando-se, por vezes, “o próprio texto”.

Já a oficina permitiu aos alunos que tivessem acesso a conhecimentos, técnicas, ferramentas que os auxiliariam na compreensão e na confecção (saberes e fazeres) de um espaço virtual de um blog, de um texto colaborativo pela rede e de códigos QR. O conhecimento das ferramentas é importante para que desenvolvam relativa autonomia sobre certas tecnologias e possam aplicá-las a contextos educacionais.

A escolha dos verbetes é outro ponto fundamental, pois é a escolha dos temas que trará significado para a relação dos escreventes com os conhecimentos do âmbito teórico concernentes à área da Leitura e da Escrita, de forma geral ou da área da Linguística. O intuito foi proporcionar, também neste procedimento, a oportunidade de se fazer relações entre diversos saberes e a possibilidade de falar de temas que, se não estão diretamente ligados aos conhecimentos da área disciplinar em questão, fazem parte de seus interesses como estudantes universitários, como licenciandos, como cidadãos.

5 | CONCLUSÃO

O nosso objetivo, neste texto, foi apresentar as motivações, as ideias e teorias que nos inspira(ra)m e o que construímos até agora. Foram vários verbetes construídos no decurso das primeiras experiências com o Blogário e o desafio que se afigura nesse momento é o de aprimorar o conjunto de atividades com base no que foi produzido. Frisamos que o processo em questão é uma tentativa de criar um percurso de aprendizagem significativo, trabalhando o caráter híbrido da aprendizagem e a natureza dinâmica da linguagem de forma situada. É oportuno lembrar o que diz Moran sobre a realidade da educação hoje, quando os processos de ensinar e de aprender acontecem numa espécie de simbiose profunda entre o que chamamos mundo físico e mundo digital. “Não são dois mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente” (MORAN, 2015). Mesclar o Blog ao Glossário é uma tentativa, como se disse, de instigar à produção de textos que abordem temáticas da disciplina e do contexto acadêmico, formas de saber e fazer típicas da academia - que envolvem processos de pesquisa, de manejo de conceitos, de referenciação –, mas também envolvam, além do esforço para construção e uso de termos, construções e formas linguísticas adequadas, o exercício de refletir e posicionar-se em relação às temáticas, considerando a vivência pessoal e a necessidade de encontrar um modo de expressão condizente com a situação criada.

Dessa forma, estimulando a capacidade de realizar ações digitais bem sucedidas como parte de situações de vida, que envolvem aquisição e utilização de conhecimentos, técnicas, atitudes e qualidades pessoais, planejamento, execução, avaliação de procedimentos e decisões na solução de tarefas e reflexão sobre o próprio aprendizado, pensamos estar investindo e participando das práticas de letramento(s).

REFERÊNCIAS

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SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento digital. In: Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>.Acesso em 28 nov 2017.

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